19.1.11

Fabrício Carpinejar

tem um poema meio micro do Carpinejar que diz assim:


Há partes dentro da gente
que nunca serão educadas.
A morte é uma delas.

Não sou o que aprendi.
Sou o que falta aprender.

16.12.10

Correio Elegante

hesito tanto em dizê
fico de lá para cá
quem será que é você?
que será que será?
e de cá para lá
acho que num vô


ou vô
sei lá
vô ou num vô?
sabe, tô só


e poesia di amô 
num é de brincá
num se diz por dizê
só por cantá


então tá
me deixa dizê


assim
sabe...


eu gosto docê
mas gosto 
com vontade 
di amá

6.11.10

Sonho 05/11 para 06/11 de 2010

Eu tento falar, mas na minha boca, um dente, no maxilar inferior, central, que aponta para o meu nariz, cresceu, está grande e torto, ele interrompe, atrapalha a minha lingua. Tento falar, mas a minha voz sai sibilante, os sons transversais, o ar escapa. A pessoa a minha frente, se fixa em minha boca, tenta entender o que quero dizer. Eu me esforço mais, minha língua passeia pelo dente monstruoso, toma consciencia dele, tenta contorná-lo, elevo a minha voz, meus grunidos se tornam mais grotescos, mais incompreensíveis.

Então eu forço o maxilar superior sobre o dente, pressiono-o, e num movimento único, arranco-o, ele rasga minha gengiva, num esguicho de sangue.

Termino o que tinha a dizer.

3.11.10

Xenofobia do paulista se superando

É... perdoem-me.
Terei que estragar a boniteza que está este blog, com um link dos mais lastimáveis que já vi nos últimos tempos! Sinceramente às vezes esqueço como as pessoas podem se superar...

http://www.youtube.com/watch?v=tCORsD-hx0w&feature=player_embedded#%21

27.10.10

Balanço de um ex-adolescente

Eu gosto de respostas. Gosto mesmo. Preciso delas para a coerência do enredo. Qualquer enredo, o meu principalmente. O enredo, ou discurso, é a estrutura dentro da qual precisamos encaixar as nossas experiências, escolhas, acasos, os momentos bons, os ruins. Tudo que marca, que sobrevive na memória, a gente preserva numa moldura narrativa: começou assim, depois continuou assado, e então foi por esse caminho até chegar aqui. E só então, e só depois, podemos sonhar, fazer projetos, planejar: o futuro.

O que dá liga aos enredos é o Sentido: com sua consistência de poeira, encobrindo todos os cantos da memória, cada unidade aleatória que a compõe, e atribuindo a elas um traço em comum, esse traço que as transformam em partes. Essas partes que juntas dão o todo. Esse todo que chamamos de Vida.

A poeira não nasce dos objetos que ela encobre, o Sentido também não. Não é uma enorme coincidência que tudo fique enpoierado, isso não revela a harmonia cósmica da existência. A poeira apenas indica uma coisa: a ausência de movimento. É por isso que acredito que Sentido tem consistência de poeira.

Quando nos movemos demais, a poeira levanta, o Sentido se vai. Foi assim, é assim.

Entao, eu paro, e espero. E olho.

É claro que nem sempre entendi o Sentido dessa maneira.
No início eu procurei o Sentido entre aquilo que me ofereciam. Experimentei alguns, mas não serviram.
Depois, acreditei que o Sentido fosse um segredo, a riddle, wrapped in a mystery, inside an enigma. Que era preciso descobrí-lo. Eventualmente, desisti.
Por fim, compreendi que se ele não existia, o Sentido deveria ser criado. Tiraria um da minha própria cartola.